terça-feira, agosto 18, 2009

Minha primeira vez...


...num velório;
...num enterro;
...carregando um caixão.

E já com alguém que amo muito: meu vô.

Minha quarta-feira terminou como todas as outras, chegando em casa do trabalho, dando uma geral em casa, vendo alguma coisa na tv e trabalhando no note. E terminou com a notícia da internação do meu vô, vítima de um AVC.

Minha mãe zarpou pra encontrar em família em Alegrete e não conseguiu me avisar antes. Fui no dia seguinte com meus primos.

Chegamos lá na quinta a noite, dormimos, e ao meio dia do dia seguinte a confirmação: meu vô faleceu.

Parece que ele esperou todos chegarem. Sempre foi forte, entao foi mais um pouquinho pra esperar todos se reunirem.

Não cheguei a ve-lo no hospital. Fui direto para o local onde ele seria velado, com meus primos e tios. A ficha ainda não tinha caído, tudo estava acontecendo muito rápido, sem muito tempo pra digerir.

Até então eu não havia chorado, aquilo tudo não parecia real. Mas então o caixão entrou, carreguei junto com meu tios e meu primo. O deixamos numa espécie de altar, e me afastei, esperando a abertura.

Então abriu. Imediatamente, como se um botão tivesse sido apertado eu morri junto. Lembrei de tudo que aprendi e viví com ele. Meus pais separados, passei a infancia toda morando com a minha mae e meus avós. E agora ele estava li, inerte, mas com a o rosto tranquilo, sereno.

Eu queria ter levado uma bandeira do Inter pra colocar ali. As fotos que tenho com ele, um espeto pra lembrar os churrascos, um avental. Mas só o que eu tinha eram as lembraças e o abraço apertado da minha tia.

É estranho ver pessoas tao fortes com as quais conviví anos completamente arrasadas, chorando. Meu tio, minhas tias, minha mãe, meus primos.

Mas minha vó é FODA. Chorou, falou bastante, nao guardou nada dentro dela, mas seguiu ali. Firme. Se eu chegar aos 80 anos com 50% da força e coragem que ela tem...

Velamos o vô durante a tarde, a noite, a madrugada até as 15h do dia seguinte, quando iniciaríamos o enterro.

Passei a noite com meus tios, tia e primos, cuidando do vô. Choramos mas também rímos bastante, lembrando histórias. E assim foi a noite, bastante alegre em torno do vô. Ele viveu a vida inteira com a casa cheia de netos, filhos, amigos, fazendo churrasco, tomando uma cervejinha de vez em quando e rindo bastante. Nao podíamos privá-lo desse clima.

As vezes, em meio aos risos, nos olhavamos, como se estivessemos indagando uns aos outros: "pq os risos? e o respeito com a perda?"

O maior respeito que podemos ter com o vô é seguirmos nossa vida, nossa família, com a mesma alegria de sempre, com os mesmos churrascos aos domingos, o natal na casa da vó, o ano novo no Chico e na Mone.

Antes de fechar o caixão para a prece final, a Vó tomou a frente.

"Ninguém vai falar por mim, eu quero falar."

E falou. Lindamente, lembrando tudo de bom que viveu com o vô, os filhos que vieram desse relacionamento lindo, os netos as pessoas que vieram fazer parte da nossa família, genros, noras...

E ela foi forte. Todos chorando e ela ali, sem gaguejar, sem chorar. Talvez por dentro tivesse uma faca arrancando o coração dela, mas segui firme.

Nao lembro de todas as palavras dela, e isso me dói. Mas nao aguentei, me abracei no meu primo e chorei.

Carregamos o caixao para o carro fúnebre e fomos para o cemitério.

A casa da vó fica no caminho, a pouco quadras do cemitério. Passei a infancia toda, até os 15 anos, vendo carreatas indo para o cemitério. Jamais imaginei que estaria em um dos carros.

Chegamos lá, carregamos o caixao até o local onde vai descansar meu vô Pedro, 83 anos de muito amor, que vai deixar saudades pra sempre.

Vô, vai com Deus. Descansa e cuida da Vó aí em cima.

Vamos cuidar da Vó por aqui.

Te amo.

Neto Ví.

O referido é verdade e dou fé.
Oficial designado: óBito Legal, as 1:05 AM / 0 pêsames

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